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O que te move no trabalho não é o que você pensa. É o que você ainda não sabe sobre si

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Nos últimos meses, têm se multiplicado no LinkedIn e no Instagram posts sobre “como se comunicar melhor”, “como falar com líderes”, “como se posicionar com a equipe”, “como se tornar mais respeitado” e até “palavras mágicas para ser visto como profissional estratégico”.


Pensei a respeito. Funciona? Até certo ponto, sim. Mas nenhum atalho comportamental resolve o que nasce muito antes de qualquer frase dita: o modo como você se coloca no mundo está costurado no seu inconsciente.


E aqui está uma verdade que raramente aparece nesses posts cheios de fórmulas rápidas:

A comunicação não muda pela técnica. Muda pela descoberta do sujeito que comunica.


A linguagem revela o que você tenta esconder


Para Lacan, “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. Isso significa que não falamos apenas com a boca, falamos com o que nos move, com o que nos fere, com o que desejamos, com o que evitamos, com o que não conseguimos elaborar.


E é por isso que, na vida profissional, você pode: assistir a palestras sobre comunicação assertiva; decorar fórmulas de feedback; tentar imitar líderes admirados; vestir uma persona mais “confiante”; ou repetir frases motivacionais e mesmo assim continuar sentindo que não sai do lugar.


Porque o que realmente aparece quando você se comunica é: o seu medo de errar; a sua necessidade de agradar; o seu sentimento de inadequação; o ideal impossível que tenta alcançar; a comparação silenciosa com os outros; o eco de cobranças antigas; e os traumas que moldaram a forma como você aprendeu a se mover no mundo.


A linguagem entrega tudo, inclusive aquilo que você gostaria de esconder até de si mesmo.


O problema não está na frase que você usa. Está no sujeito que você tenta esconder.


Para Freud e Lacan, não é a consciência que nos dirige. Quem guia nossas escolhas, sobretudo no trabalho, são os desejos, conflitos e dores inconscientes.

É o inconsciente que:


• nos faz escolher chefes que repetem padrões familiares,

• buscar reconhecimento onde nunca virá,

• nos defender antes mesmo de ser atacados,

• falar demais para evitar silêncio,

• ou falar de menos para evitar exposição.


É por isso que certas decisões profissionais parecem sem sentido, mas fazem todo sentido quando olhadas pela lente da nossa história. E é também por isso que tanta gente sofre no ambiente de trabalho mesmo sendo competente, ética e dedicada. Não falta técnica. Falta encontro consigo.


O ideal que você persegue é realmente seu?


Lacan mostra, no estádio do espelho, que construímos nossa imagem sempre pelo olhar do outro. E no mundo corporativo, esse “outro” tem muitos rostos: chefes, pares, metas, expectativas, cargos, indicadores, benchmarks, egos inflados e uma pressão silenciosa para ser “a versão ideal do profissional perfeito”.


Mas esse ideal, muitas vezes, não é seu.


É uma repetição, às vezes obediente, às vezes defensiva daquilo que um dia você ouviu, viveu ou acreditou que precisava ser para ser amado, aceito, incluído, reconhecido.


Sem perceber, você rema com remos tortos, dentro de um barco que alguém escolheu por você, tentando seguir um rio que não te pertence.


E o resultado? Cansaço, ansiedade, frustração, sensação de inadequação e uma vida profissional vivida para fora, nunca para dentro.


Não basta seguir o fluxo. É preciso entender os remos.


No ambiente corporativo, o que conta é a entrega. Mas entre a entrega e o sujeito que entrega existe um abismo emocional. Você pode até continuar “navegando”, mas, se seus remos foram forjados na dor, no excesso de cobrança, em traumas, comparações ou ideais distorcidos, o movimento fica mais pesado e a sensação é de que você nunca chega a lugar nenhum.


Resultados não definem quem você é. O que define é seu lugar no desejo; esse ponto íntimo que sustenta o que realmente faz sentido para você. E é justamente esse lugar que raramente investigamos sozinhos.


Uma verdade incômoda: o caminho certo não vem de fora para dentro — vem de dentro para fora


Tentar “melhorar a comunicação” sem olhar para o inconsciente é como pintar as paredes de uma casa com rachaduras internas. Fica bonito por fora. Mas continua caindo por dentro. A comunicação, a segurança, o posicionamento e a força emocional começam onde ninguém vê. 

Começam nas histórias que você nunca contou; nos medos que aprendeu a esconder; no ideal que tenta sustentar; na falta que te move desde a infância e no desejo que insiste em você, mesmo silencioso. Esse é o terreno onde a vida profissional realmente se transforma. E é aqui que meu trabalho entra.


Por que falo disso? Porque vivi isso.


Durante décadas, conduzi equipes, projetos complexos e posições de alta cobrança. Segui ideais que não eram meus, persegui uma perfeição desnecessária, busquei reconhecimento em lugares que nunca devolveriam. Acreditei que ‘ter’ e ‘mostrar’ bastavam. E, mesmo assim, havia prazer; mas um prazer estranho, distorcido, muito mais egoico do que um gozo no sentido lacaniano. Um prazer que não sustentava nada e que, com o tempo, a ansiedade e o cansaço foram esvaziando até quase desaparecer. Não pela jornada em si, mas pela luta interna para manter um ideal que nunca foi realmente meu.”

Com mais de 60 anos, posso dizer sem hesitação: "eu poderia ter sofrido muito menos e aproveitado mais o prazer se tivesse entendido meu próprio inconsciente antes."

Hoje, minha prática clínica nasce desse encontro entre:


• 30+ anos de liderança e complexidade corporativa,

• formação psicanalítica sólida,

• mil horas de clínica,

• escuta profunda,

• maturidade emocional,

• vivência real das dores que trato,

• e um compromisso ético com a verdade de cada sujeito.


Como posso ajudar profissionais e líderes hoje

Meu trabalho não é ensinar frases prontas. É ajudar você a compreender:


• como seu inconsciente atua no trabalho,

• como seus ideais foram construídos,

• quais desejos realmente são seus,

• por que certos padrões se repetem,

• onde sua comunicação trava,

• e qual é o seu lugar no desejo — o ponto que reorganiza toda a sua vida profissional.


Quando esse lugar aparece, a comunicação muda sozinha. O posicionamento muda. A segurança muda. O rumo muda. Não por técnica, mas por verdade.


Se quiser conversar, estou aberto — sem pressa, sem pressão e sem compromisso


Se esse texto te tocou, se você sente que está repetindo padrões, se já cansou de fórmulas externas, ou se deseja se reposicionar com clareza, maturidade e propósito, podemos conversar. Uma conversa franca, séria e humana, como a vida adulta merece. Sem compromisso. Sem promessa vazia. Apenas um espaço seguro para entender o que está acontecendo dentro de você e o que pode ser o próximo passo.


A transformação profissional real começa aí: no encontro entre o que você vive e o que você deseja viver.nDe dentro para fora. Sempre.


Julio Cesar Picelli - Psicanalista Clínico



Bibliografia:

FREUD, Sigmund. O Eu e o Isso. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Inibições, Sintomas e Ansiedade. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 7: A Ética da Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

LACAN, Jacques. O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

LACAN, Jacques. Função e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

 
 
 

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