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A Confiança Que Muda o Rumo da Vida

Como o tempo, a maturidade e o autoconhecimento me ensinaram que a verdadeira confiança nasce de dentro e não das promessas do mundo.


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Confiar era acreditar no outro, nas promessas que pareciam sinceras, nas palavras que soavam bonitas, nos caminhos que alguém dizia conhecer melhor do que eu. Era, de certo modo, uma forma de esperança.

Mas com o passar do tempo e das desilusões, percebi que há uma grande diferença entre esperança e confiança.


A esperança, muitas vezes, nos coloca em posição de espera: aguardamos que algo aconteça, que alguém nos salve, que uma situação mude. Já a confiança verdadeira exige presença e responsabilidade: é a coragem de se colocar em movimento, mesmo quando não há garantias.


As falsas promessas e o aprendizado do tempo


A vida nos ensina, cedo ou tarde, que nem toda promessa é real, nem toda fala é verdadeira. E que a ilusão tem um poder imenso de nos afastar de nós mesmos.

Acreditar cegamente em discursos prontos, sejam eles de sucesso, de felicidade, de amor ou de espiritualidade, é abrir espaço para o autoabandono.


Foram muitas as vezes em que confiei nas aparências, em pessoas ou ideias que pareciam sólidas, mas se revelaram frágeis. E foi justamente nas fraturas dessas experiências que comecei a compreender o valor da confiança interior: aquela que nasce do autoconhecimento, da escuta e da paciência com o próprio processo.


Com a maturidade, aprendi que a idade não traz apenas rugas ou histórias, traz uma nova forma de ver o mundo.


A sabedoria que vem com o tempo não está em saber tudo, mas em distinguir o que realmente importa: pessoas que somam, valores que sustentam, crenças que libertam e regras que já não fazem sentido algum.


A terapia como caminho de reconstrução


Nada disso teria se tornado tão claro sem o caminho da terapia pessoal.

Foi na análise, no exercício de me ouvir e ser escutado, que comecei a entender o que, de fato, me afastava de mim.


A escuta analítica me permitiu nomear feridas antigas, reconhecer traumas e ressignificar histórias que eu carregava sem perceber o peso.


A confiança começou a se reconstruir ali, no espaço entre o silêncio e a palavra.

Entendi que, para confiar no mundo, primeiro era preciso reconfiar em mim, nas minhas percepções, nas minhas escolhas e até nas minhas fragilidades.


O processo terapêutico me ensinou que não há autoconfiança sem autorreconhecimento.


Foi ao encarar meus medos, a complexidade da sexualidade, os conflitos da carreira e o medo da exposição, que comecei a integrar partes de mim que antes estavam fragmentadas.


A psicanálise, com toda sua profundidade, não me deu respostas prontas, mas me ensinou a fazer as perguntas certas.


E foi nesse movimento que a confiança deixou de ser um ideal e se tornou uma experiência viva: o sentimento de estar inteiro, mesmo quando tudo ao redor é incerto.


Confiar em si é um ato de coragem


Confiar em si mesmo é talvez o maior desafio humano.


É fácil confiar quando tudo vai bem; difícil é manter a confiança quando o chão se abre sob os pés, quando os planos desmoronam, quando o espelho mostra dúvidas e fragilidades.


Mas é justamente nesse lugar de vulnerabilidade que a confiança se constrói. Ela não nasce da certeza, mas do encontro com o próprio limite. Não vem da voz dos outros, mas do silêncio que nos obriga a escutar o que realmente somos.


A confiança autêntica não é um exercício de fé cega, mas um mergulho consciente na própria existência. É dizer a si mesmo: “Mesmo sem saber o que vem, eu sigo.” E seguir, apesar do medo, das incertezas e das perdas, é um gesto profundamente humano.


A virada: reencontrar o propósito


Tornar-me psicoterapeuta foi uma das grandes transformações da minha vida.


Depois de uma longa trajetória no mundo corporativo, percebi que o verdadeiro sentido não estava em “fazer mais”, mas em ser mais verdadeiro comigo mesmo.


O caminho da terapia me devolveu algo essencial: o propósito.


Resgatou o prazer em escutar, compreender e ajudar outras pessoas a reencontrarem também o valor de suas próprias histórias.


Hoje, vejo que essa escolha não foi um rompimento com o passado, mas um reencontro com aquilo que sempre esteve em mim, o desejo de compreender o humano em sua complexidade, em suas dores e em suas potências.


Foi também uma reconciliação com partes minhas que antes eu não sabia acolher: o sensível, o emocional, o contraditório, o imperfeito.


A psicanálise me ensinou que o sujeito é sempre maior do que suas feridas, e que a confiança renasce cada vez que reconhecemos em nós o desejo de viver, de recomeçar, de seguir em frente.


Confiança é presença


A confiança não é um ponto de chegada, mas um exercício diário.


Ela se renova a cada passo, a cada gesto, a cada pequena decisão que tomamos com consciência e coragem.


Aprender a confiar é aprender a viver com mais leveza e autenticidade, é não se prender às falsas esperanças, mas também não se endurecer diante das decepções.


É reconhecer que a vida é impermanente, e que tudo o que realmente temos é o agora: o instante em que escolhemos acreditar em nós mesmos.


No fim das contas, a confiança é a semente da liberdade interior.

E foi através dela que reencontrei meu caminho, meu propósito e, sobretudo, o valor dos meus desejos.


Por Julio Cesar Picelli

Psicanalista e psicoterapeuta

 
 
 

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